Esquecidos

O Velho torce o lenço, meio esfiapado, entre as mãos, olhando fixamente, através do vidro da janela, quase opaco de fuligem, para um lugar indeterminado. 
De tempos a tempos, limpa uma lágrima que lhe escorre dos olhos cansados, sem vida, rodeados de fendas profundas, testemunhas do tempo e da dureza da vida do campo, marcada pelos rigores do inverno e pelo impiedoso sol de verão.
Os pensamentos correm-lhe desvairados. As memórias cruzam-se, atropelando-se, sem respeito pelo tempo ou hierarquia.
Porque não morri? - interroga-se - Não fiquei cá a fazer nada.
O envelhecido retrato da jovem mulher morena, de pescoço esguio e semblante sério, mira-o, imóvel, caído no chão. O velho pega-lhe, com reverência, como se se tratasse de uma preciosidade. Por momentos, as lágrimas cegam-no.
Não podia ser. Ela não podia ter partido. Deixara-o para ali, perdido, sozinho, sem poder ouvir a sua calorosa gargalhada. 
Momentaneamente, o rosto ilumina-se-lhe. - Que cara tão séria tinha a sua Maria naquela fotografia, logo ela que parecia ter sempre um sorriso  à espreita.
Porque não fora com ela? Assim, agora estariam juntos.
Vira-a parada no meio do caminho, indecisa, desesperada, sem saber o que fazer. Do carro, o Zé e a Antonieta chamavam-na. - Anda daí, mulher, que isto vai arder tudo. - E ela, ali, parada. Entre o medo de ficar e o medo de partir. 
Depois, correu até ele, abraçou-o, puxando-o para fora de casa. - Anda, homem, se tu ficas eu também fico. Morremos aqui os dois, como sempre vivemos. 
Ele empurrou-a. - Vai, salva-te. Eu fico. Se Deus tiver dó de mim, amanhã voltas e eu ainda cá estou, na nossa casa. Mas, não posso deixar isto. Está aqui a minha vida. Sem isto o que me interessa viver?
Levou-a, quase de rastos, até ao carro. Ela entrou, a custo. Ele pôs-lhe uma mão no ombro, à laia de despedida. Depois, voltou para casa e ficou a ver o carro a afastar-se, do umbral da porta. 
Com o nariz colado ao vidro, ela olhava-o suplicante. chamando-o sem palavras, sem gritos, até o carro desaparecer na curva do caminho. 
Nunca, nunca mais ouviria a sua gargalhada. A sua voz fresca, cantarolando, feliz, na horta, a tratar da criação, em casa, como se soubesse um segredo muito bom que mais ninguém conhecia.
Então, observou o céu escuro, como em dias de tempestade. O fumo estava por todo o lado. Um pouco mais longe, uma chama viva, laranja, vermelha, amarela, saltitava, como criança traquinas. O vento, ou seria o fogo, rugiu, qual animal esfomeado. As árvores vergaram agitando as folhas, as portadas das janelas bateram com violência e uma nuvem escura, fedendo, abateu-se sobre a casa.
O Velho pensou - Pronto, é agora, vai acabar-se tudo.
Mas, não, afinal o fogo passara, desviando-se dali, ignorando-o, como se seguisse um propósito determinado.
Muito tempo depois, chegaram os bombeiros. Foi então que ficou a saber que o fogo engolira os carros que se tinham feito à estrada.
Então, a espera começou. E a sua Maria, onde estava ela? Será que tinha conseguido passar? De certeza que sim. Deus não lha ia levar. Uma mulher tão boa, sempre sorridente, sempre pronta a ajudar toda a gente.
As horas passaram, lentas, carregadas de fumo e de um cheiro nauseabundo a floresta queimada. O número de mortos crescia sem parar. Alguns eram tão novinhos, crianças ainda.
O Velho, silencioso, aguardava. A esperança crescia e morria, entre cada inspiração. Nada do que se passava à sua volta lhe parecia real. Era como um daqueles sonhos de que não conseguimos acordar, em que os acontecimentos mais disparatados se sucedem sem nexo e sem explicação.
O lugar, para onde os bombeiros o tinham levado, estava apinhado de gente. Ouviam-se gritos, choros, lamentações. Até havia ministros, secretários de estado e até o Presidente da República lá estava. Mas, para o Velho, nada daquilo fazia sentido.  Nada lhe interessava, só queria saber onde estava a Maria.
A noite chegou e o dia amanheceu. O Velho não pregara olho, encolhido no seu canto. 
A certa altura, viu duas pessoas virem na sua direção. O coração saltou-lhe no peito. Quis fugir. Não queria ver, nem ouvir. Mas ficou  imóvel, como que paralisado.
Apenas o António, o filho que vivia em Lisboa, e a família tinham vindo ao funeral da mãe. Os outros não tinham conseguido arranjar forma de chegar a tempo. Ligaram-lhe, deixando a promessa de que viriam por um período maior, logo que lhes fosse possível.  
Algum tempo depois do funeral regressou a casa. Nada fazia sentido. Olhava em redor, com desalento. 
Os estragos eram grandes, mas as árvores que tinham resistido ao fogo iriam sobreviver e tudo o resto renasceria. A natureza é mesmo assim. - pensava - O fogo pode levar-lhe tudo, mas ela volta a regenerar-se. 
Mas, sem a sua Maria, nada lhe interessava agora. Os filhos estavam espalhados por esse mundo. Um vivia em França, há muitos anos, outro tinha-se mudado, há algum tempo, para Moçambique e o mais novo vivia em Lisboa. 
Raramente os vivia. Com sorte apareciam todos no Natal e, de vez em quando, nas férias de verão. Mesmo o que estava em Lisboa não aparecia muito mais. Dizia que ficava caro andar de um lado para o outro
Nenhum deles se interessava por aquele pedaço de terra, a que ele dedicara a sua vida e que sempre tinha tratado com amor. 
O tempo passava lento, como se se arrastasse. Por companhia tinha apenas o Farrusco, o grande serra da estrela, que sempre o acompanhara para todo o lado. Mas, também ele parecia sem animo. Passava o tempo deitado aos seus pés, triste, sem reação. Certamente sofria com saudades da sua dona que estava sempre a fazer-lhe festas e a dar-lhe saborosas gulodices.
A criação, galinhas e patos, tinha-se perdido, ou porque se tinha posto em fuga ou porque morrera intoxicada. O Velho não conseguira, igualmente, salvar os porcos, nem as cabras ou a vaca, pois encontravam-se na ponta mais distante do terreno, na altura em que o fogo, qual explosão de bomba, tinha atingido aquela zona, inesperada e violentamente.
À sua volta tudo era negro, sem vida. O silêncio era pesado, sem os chilrear dos pássaros ou quaisquer outros sons dos animais que ali costumavam habitar.


Os troncos das árvores ardidas lembravam velhas sentinelas petrificadas, envoltas num cheiro pestilento que lhe penetrava as narinas, agoniando-o.
Ouvia as notícias, mais para sentir que não se encontrava sozinho no mundo, do que para verdadeiramente se inteirar do que nele se passava.
Alguns diziam que a culpa era dos eucaliptos. Como se fosse possível que a culpa dos fogos pudesse ser de uma qualquer árvore ou arbusto. 
Noutros tempos, dizia-se que a culpa era de certos partidos políticos. Depois que era dos madeireiros. Mais tarde, que era por causa dos negócios do fogo. Pois, agora, chegara a vez dos eucaliptos.
Mas, o Velho bem sabia, a culpa era, na verdade, do abandono a que tinham sido votadas as terras e os poucos homens e mulheres que ainda a trabalhavam. Os rurais, como, com certa condescendência, os das cidades lhe chamavam.  
A culpa era de não haver uma gestão, organização e vigilância adaptada ao facto de não haver gente suficiente para trabalhar e limpar a terra. Coisa que só era feita por ele e outros como ele, quase todos já velhos. Esquecidos, abandonados, rodeados de mato, de terrenos baldios, que ninguém tratava, e de florestas, onde só alguém ia quando chegava a altura de cortar as árvores. 
A culpa era dos políticos, que estavam lá longe, e dos habitantes das grandes cidades, que neles votavam, esquecidos das populações rurais e da vida, da verdadeira vida, que ali existia. 
Para todos eles bastava que os produtos aparecessem nas prateleiras dos supermercados, nas lojas ou nas feiras, sem terem que se preocupar com quem os produzia, como os produzia, que dificuldades ou que problemas enfrentava, ou a que trabalho ou mesmo sacrifícios obrigavam. 
Desde que os produtos da agricultura e das florestas chegassem até eles, nunca se perguntavam como e através de que processos tal coisa acontecia.
Mas, nem só os das cidades, que não distinguiam um pinheiro de uma oliveira, eram os culpados. Outros, como o Zé da Rita, que, infelizmente, se  saíra bem mal, também o eram. 
Para este foi como se a terra o tivesse castigado pelo abandono a que ele a tinha votado. 
Partira, há alguns anos. Arranjara um emprego que lhe dava mais dinheiro e menos trabalho do que a agricultura e a silvicultura responsável, mas decidira, antes de se ir embora, plantar eucaliptos em todo o terreno que possuía e até, talvez, no que não lhe pertencia, mas que já nem se sabia de quem era, pois estava há vários anos abandonado. 
O Velho chamara-o à atenção quando o viu cortar o renque de carvalhos à volta da casa, para lá plantar eucaliptos.
- Ó homem não faças isso. Deixa lá estar os carvalhos e deixa um espaço maior entre os eucaliptos e as outras árvores, que isto se lhe pega o fogo leva casa, leva tudo.
Mas o Zé encolheu os ombros e respondeu-lhe: - Quero lá saber. Agora o que dá dinheiro é o eucalipto. Querem eucaliptos eu planto eucaliptos. Daqui a dez anos venho cá e vendo-os.
O Velho, coçando a cabeça, respondera-lhe: - Está muito bem que os plantes,  eu também faço o mesmo, mas tenho um espaço à volta da casa que não arde, tenho outras árvores, trabalho a terra e limpo os matos. Se deixares isto ao deus dará, estás mas é a chamar a desgraça.
Os 10 anos tinham passado e o Zé da Rita lá estava, conforme havia prometido, para vender os seus eucaliptos, quando o fogo os atingiu, devorando tudo à sua frente.
Uma lágrima escorreu pela cara do Velho. Conhecera bem a Rita e o marido, os pais do Zé. Eram bons amigos. Ao Zé vira-o crescer e fazer-se homem. Por muito que tivesse errado, morrer dentro da própria casa, engolido pelo fogo, parecia-lhe um castigo demasiado grande para o seu erro.
Torceu o lenço, com força, nas mãos, como que afastando os demónios para uma parte longínqua do pensamento.
Nas notícias diziam também que o que se devia era plantar carvalhos. Pois, seria, pensava o Velho, mas não podia ser lá grande quantidade, pois primeiro que se tirasse algum lucro deles já se tinha passado uma vida. 
O que era preciso era haver ordem nas coisas. Havia lugar para todas as espécies de árvores e não se podia acabar com aquelas que davam algum rendimento. O que era preciso era arranjar uma maneira de limpar as terras dos matos, ter animais no pasto, cultivar os terrenos agrícolas, organizar as florestas e deixar espaços livres para ser possível controlar os fogos.
Os poucos que ainda ali viviam não podiam fazer grande coisa, para além de tentar sobreviver e manter as suas coisas limpas e organizadas.
O Velho lembrava-se bem de como se costumava rir ao ouvir as conversas de certos jovens, ou mesmo menos jovens, amantes da natureza, que por vezes por ali apareciam. Cheios de ideias malucas acerca de como as coisas se deviam fazer no mudo rural. 
Tanta fantasia. Como se fosse possível alguém sobreviver se fizesse as coisas como eles imaginavam que seria bom. Bem se via que nunca tinham trabalhado no campo e muito menos precisado desse trabalho para sobreviver ou sustentar-se e às suas famílias.
Cansado de estar sentado, há tanto tempo, na sua já bem gasta cadeira de baloiço, oferta da sua saudosa Maria, quando ele fizera 40 anos, o Velho ergue-se penosamente, sentindo os ossos rangerem e estalarem, como se protestando pela inusitada inatividade a que, ultimamente, se encontravam sujeitos.
Abre a pesada porta de madeira, que range nos gonzos, num lamento, e sai para a rua, seguido, preguiçosamente, de um Farrusco cabisbaixo e acabrunhado.
Olha em redor, sem saber que fazer. Tanto quanto a sua vista alcança, tudo é desolação, silêncio e negrume.  A rama das suas árvores fruto, que tinham resistido ao fogo, pende tristemente lambuzada de negro.
A horta, coberta de cinzas, mais parece ter sido pisada por uma manada em fuga.
Todos os seus pinheiros e eucaliptos tinham ardido como fósforos, deixando em seu lugar uma floresta de troncos e ramos fantasmagóricos.  
Para o lado em que guardava os animais nem tem coragem de olhar. Todos mortos no horror das chamas e do fumo. Desfizera-se das suas carcaças com a ajuda do filho, sentindo a sua perda como a de amigos chegados.
Os ombros descaem-lhe. Um estranho e incontrolável som sai-lhe da garganta. Encosta-se a um dos grandes carvalhos, sobreviventes, que ladeiam a casa, dando vazão, pela primeira vez, a toda a dor, angústia e desespero que lhe vai na alma.
Por longos minutos, os seus soluços doridos quebram o silêncio da floresta inanimada. Farrusco, assustado, enrosca-se-lhe nas pernas, tentando, simultaneamente, consolá-lo e proteger-se. 
Por fim, acalma-se e senta-se num velho cepo, existente na frente da casa. O seu pensamento voa, transportando-o para tempos mais felizes. Vê-se a si próprio tratando do pomar, guiando as suas árvores, tratando dos animais, enquanto Maria, sempre cantarolando, trata da horta e da criação.
Todos os dias, fizesse chuva ou sol, frio ou calor, o Velho levantava-se cheio de energia. Olhava aquele bocado de terra, que amava como se fosse parte de si próprio. Todos os dias, havia que fazer. Todos os dias, estava tudo igual e tudo diferente, necessitando dos seus cuidados e atenção.
Ver nascer, ver crescer, ver árvores, culturas e animais, vingarem e fortalecerem-se, era a sua razão e alegria de viver. Sem que nunca o trabalho lhe doesse ou fizesse desanimar, mesmo nos anos em que as doenças ou as geadas, secas, ou chuvadas, fora de época, faziam perigar o resultado do seu árduo, mas gratificante, trabalho.
Está tão absorto nas suas divagações que só mesmo quase quando o automóvel entra no caminho, que conduz à sua casa, é que dá por ele. 
Mantém-se sentado. Irritado por lhe virem interromper os seus pensamentos que, por momentos, o tinham transportado para um lugar mais alegre, sem fogos, sem mortos, sem tristeza.
Deviam ser os voluntários, a saber se precisava de alguma coisa. Mas, nem lhe apetecia falar com eles. 
Olha de soslaio quando as portas do carro abrem. Estarrecido, quase sem acreditar, vê Francisco, o seu primogénito, acompanhado da  família.
Subitamente, sente-se envolvido por braços reconfortantes e amigos. 
Por entre as lágrimas, que lhe inundam os olhos, vê o rosto do seu filho marcado por rugas de uma tristeza imensa. 
O seu primogénito sempre fora muito agarrado à mãe. Estava lá longe, mas os constantes telefonemas manifestavam bem a sua saudade.
- Ó meu Pai, eu pensava que vocês eram eternos. Sabia-os aqui, sempre de braços abertos quando eu voltava. Mas, agora... - Francisco cala-se, incapaz de continuar, com a voz embargada por um soluço sentido e profundo.
O Velho olha para todos, como se procurasse reter, para sempre, aquela imagem. 
A nora, Antonieta, gordinha e  irrequieta. O neto, João, um rapagão alto e forte, de olhar inteligente, que parece ver sempre mais longe. A neta, Isabel, tinha-se feito uma rapariga bonita. Mas, aquela outra rapariga, que vinha com eles, não se lembrava quem era. Será que a sua cabeça já não estava boa?
João vendo o seu ar de confusão diz - Não se lembra da Ana, a minha namorada? É a neta dos seus vizinhos o Ti Inácio e a Ti Isabel
Claro que sim, claro que se lembrava. Já tinham morrido os dois, há alguns anos, coitados. 
Lembrava-se bem da filha deles, a Laura. Tinha casado com um rapaz do Nodeirinho e tinham emigrado para a França. Mas da Ana é que ele não se lembrava. Coisas de velho.
Bem, vamos mas é almoçar, a qualquer lado, que estamos estoirados da viagem. Depois, logo voltamos para aqui, para ver o que é preciso fazer. - disse Francisco.
Descarregam as bagagens e lá se acomodam no carro, o melhor possível, para irem almoçar.
Havia tanto para dizer. Tanto para perguntar. Mas todas as conversas pareciam morrer, envoltas em emoções dolorosas e saudade.
João mantém-se, quase sempre, muito calado, mesmo depois que regressaram a casa do avô e começaram a limpar, arrumar, deitar fora o que não presta ou a juntar a roupa da avó, para ir entregar, a que estivesse melhorzinha, no quartel dos bombeiros, onde estão a fazer a recolha dos bens.
Depois da casa já estar com um aspeto mais apresentável, Antonieta vai para a cozinha, com Isabel, acabar de arrumar as compras e fazer o jantar, enquanto os outros continuam a limpar o terreno, o melhor que é possível, até escurecer. Tarefa nada fácil para quem tinha acabado de percorrer mais de dois mil quilómetros, com o menor número de paragens possível.
Deitam-se quase logo a seguir ao jantar, tão cansados estão da viagem, do trabalho e das emoções.
Desde o raiar da aurora até à hora do almoço, conseguem acabar todo o trabalho que se pode fazer de momento. Agora, é um questão de paciência. Há que esperar que a terra, as árvores e culturas sobreviventes se recomponham e fortaleçam.
Está calor. Decidem almoçar debaixo de alpendre, tentando esquecer o cheiro e a paisagem desolada.
O Velho está mais animado. Até sorri, de quando em quando, ao recordar acontecimentos de outros tempos, especialmente de quando os filhos eram crianças e jovens.
Nesse tempo, todos os sonhos pareciam possíveis e a ideia de fogos e mortes nem lhe atravessava o espírito.
Um restolhar junto à cerca, chama-os à atenção. Branquinha surge, altiva e bamboleante, seguida de perto por meia dúzia de pequenos pintos amarelos. Por momentos, pára olhando o grupo sentado à mesa. Depois baixa ligeiramente a cabeça, como que num cumprimento, para, em seguida, olhar para trás, confirmando que toda a sua irrequieta prole se encontra à vista. 
A Branquinha, a melhor poedeira de todas as galinhas que, todos os dias, Maria tratava com desvelo. Quem diria que tinha conseguido escapar ao mortífero braseiro. 
O Velho nem consegue falar, tal o espanto. Onde teria estado ela metida, durante todo aquele tempo, e como se teria conseguido safar do fogo? - pergunta-se.
Depois, erguendo-se, transpõe a pequena distância até à porta de casa que dá acesso à cozinha. Abre um dos armários de onde retira um pequeno alguidar que enche de milho. Regressa à rua e chama pela galinha - tica tica tica, - atirando pequenas porções de milho para o chão.
Branquinha e os pintos aparecem em passo de corrida e debicam o milho com entusiasmo.
O Velho sorri, pacificado. Branquinha e a sua descendência falam-lhe de esperança e de vida, eternamente renovada, renascida. Falam-lhe da sua Maria. 


Comentários