O DIREITO À TRISTEZA



Partilho convosco o artigo abaixo, pois considero de fundamental importância o seu conteúdo.
Vivemos numa era de exacerbação da afirmação dos direitos individuais, entre os quais se encontra o fundamental direito a ser feliz, por mais que o conceito de felicidade mude de pessoa para pessoa.
Acontece que a vida é feita de altos e baixos, de momentos de felicidade seguidos de momentos de tristeza, sofrimento ou preocupação.
Embora seja fundamental ter a capacidade de nos reerguermos depois e para além das quedas, das perdas e do sofrimento, não podemos, de forma alguma, negar o sofrimento como parte integrante da vida.
Sofrer faz parte da vida, é tão natural como sorrir, falar ou amar. Temos o direito de nos sentir tristes, de chorar ou até gritar, de "subir pelas paredes"...
O sofrimento ajuda-nos a crescer e, eventualmente, transforma-nos em pessoas melhores. 
Por essa mesma razão, ao educarmos os nossos filhos temos a obrigação de lhes colocar limites, de lhes mostrar que não podem ter sempre o que desejam, porque essa é uma constante na vida.
As crianças são, apenas, seres humanos pequenos, não são seres incapazes ou seres com mais direitos que os demais. Aliás, se os "deseducarmos", passando-lhes a mensagem de que todos os direitos lhes assistem, que podem fazer tudo sem respeitarem ninguém, que os outros têm todos a obrigação de ser vergar à sua "real vontade", para que eles estejam sempre felizes, garantidamente estamos a contribuir para criar jovens e adultos muito infelizes e problemáticos, sem capacidade para lidarem com a adversidade, a tristeza ou apenas com um simples Não.

“ A geração do tá-se bem” e a negação do sofrimento psicológico
Dezembro 10 2012
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico


Hoje em dia imperam ideias de positivismo, de “smiles”, de “likes”, de sorrisos. Implicitamente corre a ideia de que o importante é nos sentirmos bem.
Gostaria que reflectissemos sobre as implicações psicológicas desta mensagem implícita e explicita de obrigatoriedade de “estarmos bem”.
Naturalmente, qualquer pessoa gosta de se sentir bem. Mas esta sensação deverá ser natural, ou seja, deverá ser de acordo com os níveis de realização de cada um. Se uma pessoa se sente realizada ou sente que está no caminho certo em áreas como o eixo amoroso, profissional, familiar, de amizades e existencial (o sentido que dá à sua vida) então é natural que se sinta bem.
A vida é dinâmica e existem sempre áreas em que sentimos maior ou menor realização. O eixo amoroso pode estar fantástico e o profissional péssimo e tal poderá não impedir que uma pessoa se sinta relativamente bem.
Mas existem situações em que o “tá-se bem” ou o “sorriso” não fazem qualquer sentido, nem têm que fazer. O problema está na dificuldade em vivenciar estas emoções. Parece que esta sociedade defensora do ultrapositivismo não deixa espaço para a partilha e a intimidade da expressão de estados de tristeza, zanga ou dor interior profunda. E esta é uma questão séria e que deverá merecer a nossa reflexão.
Quantas vezes é que só no sossego, no conforto e no segredo do nosso quarto é que somos nós, na autenticidade da nossa expressão emocional, sobretudo em períodos de dor e de ansiedade?
Muitas vezes, a censura a emoções como a tristeza ou a zanga começa desde a mais tenra infância em que estas emoções não são devidamente legitimadas e são impostos níveis de hétero-censura pelos pais e educadores. A criança aprende que não deverá estar triste ou zangada e não aprende verdadeiramente a sentir e a gerir estas emoções. Estas não aprendizagens muitas vezes têm pesados custos ao longo da vida justamente em períodos em que deveria existir a legitimidade para dizer “tá-se mal”.
A criança vai aprendendo a não gerir interiormente a tristeza e a zanga e depois é lançada numa sociedade onde a partilha da tristeza é, de certo modo, censurada…
Este é verdadeiramente um dos dramas da sociedade actual. Parece que não há espaço e compreensão para um olhar triste e vazio ou a ausência de um sorriso. Todas estas manifestações emocionais criam incómodo e embaraço e são olhadas de lado.
Se alguém se sente triste ou zangado, sorrir e fingir que está tudo bem só levará a uma maior acumulação de tensão.
Outra das consequências desta censura colectiva é o de a própria pessoa entrar em processos de relativização e de auto-ilusão perante o seu mesmo sofrimento “Se os outros dizem que está tudo bem e que eu tenho é de sorrir, então se calhar até não estou assim tão mal”.
A negação do sofrimento. O não dizer “tá-se mal”, o não ouvir as nossas emoções traz consequências…
O que acontece quando não ouvimos as nossas emoções?
Se não ouvimos as nossas emoções, então poderemos correr o risco de perpetuar ciclos de mal estar físico e psicológico. O nosso corpo começará a “guinchar” com dores de cabeça, tensão acumulada nas costas, taquicardias, úlceras, sensações de vómitos e mal-estar abdominal entre muitos outros sinais que a sabedoria do nosso corpo usa para sinalizar a gravidade da situação.
O maior erro é ignorar estes sinais e fingir que “tá-se bem!”. Por vezes devemos dizer “tá-se mal” e perceber que o “smile” interior não está disponível. É a consciência do nosso sofrimento que conduzirá à procura da mudança.
Se o seu corpo dá sinais de que “tá-se mal” ou se anda zangado, ansioso ou triste continuamente então seja verdadeiro consigo mesmo e assuma que “tá-se mal” e procure ajuda psicológica!

Vale a pena pensar nisto!


A geração do "tá-se" bem  - clique para ler o artigo no original

Comentários

  1. Perfeito! Já escrevi sobre isso, um dia. Acho que antigamente, era bonito sofrer e fazer-se de vítima; de repente, houve a tal 'onda da felicidade a qualquer custo.' Dizer-se triste passou a ser sinal de fraqueza e vergonha. Acho que existe um caminho do meio, onde podemos sim, ser felizes, mas sem negarmos a nossa tristeza ou qualquer outro sentimento que tenhamos. Sentimentos são só sentimentos, emoções são feitas para serem vividas, entendidas, e não negadas! Muito boa a postagem.

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