RECEITAS MILAGROSAS PARA UMA VIDA DE SUCESSO


Hoje, enquanto esperava para ser atendida numa papelaria, passei os olhos pelas capas das revistas que estavam expostas. Uma delas, a da Happy, chamou-me  a atenção, por causa de um dos artigos que anunciava ter no seu interior.
Normalmente, não sou uma compradora de revistas, mas, neste caso, não resisti a abrir a revista, na página indicada, e acabei mesmo por a comprar e, embora esteja assoberbada de trabalho, não resisti a partilhar convosco as minhas reflexões.
O tema em causa, livros de autoajuda, tem sido, muitas vezes, objeto das minhas reflexões. Nos últimos dez anos, a publicação deste tipo de livros tem proliferado enormemente. De todos eles, o mais falado e, provavelmente, o mais vendido foi "O Segredo".
Sempre me perguntei se de facto este tipo de livros traria algum benefício aos seus leitores. A maioria deles promete sucesso pessoal, profissional ou ambos, relacionamentos amorosos fantásticos, mudanças extraordinárias na vida das pessoas, dinheiro ou a quase mudança de personalidade, por parte daqueles que sigam uma espécie de receitas milagrosas contidas nesses livros.
O artigo em causa refere-se a uma investigação realizada por dois psicólogos canadianos, Joanne V. Wood and John W. Lee, acerca deste tema e as conclusões a que chegaram com a mesma. As quais indicam que, em muitos casos, em vez de ajudarem as pessoas, estes livros provocam enormes desilusões, frustrações e mais infelicidade.
Efetivamente, que eu conheça, não existem fórmulas secretas para ser sempre feliz e  ter sucesso em tudo o que fazemos; para se conseguir alcançar todos os objetivos a que nos propomos; ou para passarmos a achar que somos seres perfeitos.
É evidente que, se tivermos uma boa imagem de nós próprios, se não nos deixarmos derrubar pelos fracassos, se acreditarmos nos projetos a que nos propomos, se nos erguermos após as quedas, se procurarmos encontrar soluções para os nossos problemas, teremos muito mais hipóteses de ser felizes.
Mas, não devemos perder a perspetiva de que a vida nos coloca muitos desafios, problemas complicados e por vezes graves. 
É fundamental que aceitemos que o sofrimento faz parte da vida, que nem sempre agimos da melhor forma, ou que nunca vamos ter olhos azuis, se tivermos nascido com eles castanhos e, acima de tudo, que, muitas vezes, o nosso sucesso não depende apenas da nossa atuação, mas de uma série de circunstâncias e pessoas.
Além de que, ainda que algumas vezes a vida nos dê grandes borlas, a maior parte do nosso sucesso, seja naquilo que for, depende do nosso trabalho, esforço, empenho e dedicação.
Uma atitude positiva, o procurar estar bem com o mundo e os outros, a capacidade de aceitar o que não pode ser mudado e a coragem de nos reconstruirmos, após qualquer acontecimento grave ou negativo, são, não um segredo, mas antes o travar a "guerra da vida", para conquistar a paz.
Acredito que a Madre Teresa de Calcutá conseguiu erguer a sua enorme obra, ajudada pela sua grande fé e pelo amor ao próximo. Mas tenho a certeza de que, para o conseguir, teve que trabalhar e lutar muito. Deve ter-se sentido, muitas vezes, esmagada pelos entraves, pela sensação de impotência, por não conseguir aliviar todas dores ou solucionar todos os problemas. Provavelmente, houve momentos em que pôs em causa a sua fé, o seu trabalho, ou até mesmo o sentido da sua vida.
Ocorreu-me que a vida podia ser comparada à aprendizagem de uma língua.
Nascemos sem pedir para nascer e não temos consciência de ter nascido, da mesma forma, aprendemos a nossa língua materna, sem termos consciência disso e sem sentirmos qualquer tipo de dificuldade. 
Contudo, a partir do momento em que tomamos consciência de que estamos vivos as dificuldades começam a aparecer. Da mesma forma, quando entramos em contacto com uma nova língua, no início,  não percebemos nada. Depois, lentamente, vamos descobrindo palavras. Em seguida as frases começam a ter algum sentido e, se continuarmos a estudar e a contactar com pessoas que falem essa língua, há um momento em que ela já nos é absolutamente familiar e, inclusivamente, já conseguimos pensar nessa língua.
Mas, a vida é um desafio permanente e, logo que nos começamos a sentir à vontade com uma "língua", ela dá-nos logo outra para aprendermos.
Acontece que, a cada nova "língua" que aprendemos, por mais difícil que ela seja e mesmo que tenhamos que aprender um novo alfabeto, ou até  a escrever da direita para a esquerda, já conhecemos os truques da aprendizagem, já sabemos que vamos ter momentos de incompreensão e de dificuldade, em que nos apetece desistir de tudo. Mas sabemos também uma outra coisa muito importante, é que, se conseguimos aprender a primeira língua, seremos sempre capazes de aprender uma nova.
A vida é isso mesmo, aprendizagem. E, sempre que julgamos já ter aprendido tudo, vivido tudo, sofrido tudo, amado tudo e rido tudo o que havia para rir, vai a vida e prega-nos uma partida e começa tudo de novo outra vez.
Não há receitas milagrosas, mas há o milagre que é a vida.



Comentários

  1. Também não creio em nenhum desses livros de "receitas" e seus "milagres" (tb já escrevi sobre lá no divã)...aliás, o milagre que ocorre é a multiplicação do dinheiro no bolso do autor e editoras. Bem diz o ditado que se conselho fosse bom, ninguém dava...vendia. E é isso que fazem.
    Beijuuss, amaaada, n.a.

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